Precisei montar uma caixinha surpresa recheada de guloseimas para
minha filha receber na escola em comemoração pela semana da criança. Peguei minha
caixinha de memórias da adolescência, retirei tudo que havia
dentro, deixei os papéis e as cartas espalhados pela cama realizando a divertida tarefa. Já à tarde
resolvi dar uma conferida nos "segredos" que eu guardava por tantos anos .
Surpresa foi a minha, ao encontrar uma redação que fiz aos quatorze anos
quando era aluna do 1º ano do Colégio Pio XII. Na época fazia um ano que eu havia me
mudado para Belo Horizonte.
Tema proposto pela professora
Se uma fada me desse sua
varinha de condão, no início deste ano, o que eu faria com ela?
Caso
tivesse uma varinha de condão, gostaria de poder voltar para a cidade da qual
vim. Seu nome é Itabira. Morei em Itabira durante seis anos, vindo para Belo Horizonte
em janeiro de 1986.
Tenho
saudades dos meus ex-professores, do meu ex-colégio, de minhas amigas que não
vejo há algum tempo e principalmente de Itabira, tenho saudades. Vir para a
capital foi um grande susto. Logo me adaptei, mas nunca aceitarei.
Quando
se vem para a capital é difícil voltar e sei que não serei exceção. Aqui tudo é
mais pedra, tudo é mais gelo. Você se fecha e aprende a ser mais pedra.
Apesar
de não ser itabirana, eu me considero uma. Fui para lá com sete anos e seu
ferro entrou na minha alma, como diria Carlos Drummond de Andrade, em
“Confidência do Itabirano”.
Os
motivos que me trouxeram para Belo Horizonte não me levam de volta a Itabira e
acho que somente uma varinha de condão me levaria, mas quem sabe?
12/02/87
Enquanto remexia minha caixinha de sentimentos me dei conta de que a próxima semana é semana de festa em Itabira, nove de outubro é dia da cidade.
Tem belezas minha terra,
Vou cantar a minha lira,
A primeira é mais sublime,
O seu nome é Itabira...
De Itabira trouxe tantos sonhos... Guardei-os na caixinha.
É esse hábito de sofrer... Doce herança itabirana...
Itabira foi arrancada da minha parede... Ainda dói!