26.6.11

Sobre construções e desconstruções.


Canapés de "Variações sobre o Prazer [Santo Agostinho, Nietzsche, Marx e Babette]" de Rubem Alves. Durante os próximos dias vocês estão convidados a participarem desta festa que tem sido, para mim, a leitura deste livro.  Se por ventura os canapés forem insuficientes para o apetite despertado, declinem o convite e partam logo para o livro.

E, assim, resolvi: vou publicar um livro sem fim.

Como tenho raiva de Antoine de Saint-Exupéry - "tornamo-nos eternamente responsáveis por aqueles que cativamos...". Mas isso não é terrível? Ser responsável por tanta gente? Cristo, por amar demais, terminou na cruz. Embora não saibamos, o amor também mata.


A vida é assim: a gente escolhe um caminho na esperança de que ele vá nos conduzir a um lugar de alegria. Tolos, pensamos que a alegria está ao final do caminho. E caminhamos destraídos, sem prestar atenção.


Não sou mais um cidadão do "País dos Saberes". Estou em boa companhia. Barthes é uma delas.


O meu prazer de escrever também se encontra nas miniaturas. Gosto de escrever crônicas. As crônicas são instantâneos fotográficos.


A razão é séria. Exige o sistema. O corpo é brincalhão. Ri da razão.


Quem lê bebe o sangue de quem escreveu. O ritual da leitura é, como a eucaristia, uma refeição antropofágica.


Os conhecimentos nos dão meio para viver.
A sabedoria nos dá razões para viver.
Sábias são as pessoas que sabem viver. Tolo é aquele que, tendo defendido tese sobre barcos e mapas, não sonha com horizontes, não planeja viagens, não imagina portos. Anda sempre em terra firme por medo de naufrágio.


Um texto científico sobre  o prazer seria o mesmo que tocar uma sonata para piano, de Mozart, numa máquina de escrever.


...a verdade do coração, morada da alegria, não se encontra na letra; ela se encontra na música, além das palavras. Ensinar a alegria: é isso que eu desejo.


Os objetos fazem sonhar o poeta. Aos seus olhos, eles são dotados de propriedades alucinógenas e afrodisíacas. São excitantes do amor. A poesia começa no momento preciso em que o objeto se torna vítreo, transparente, deixando ver coisas que nenhuma inspeção óptica objetiva poderia revelar. Poesia é uma qualidade do olhar.


O poeta é um feiticeiro alquimista que cozinha o mundo nos seus versos...


A culinária tem, dentre outros poderes, o de colocar sabor nos olhos e de colocar cores na boca.


A alegria, na ausência, tem o nome de saudade: doce e amargo. A alegria é doce; a ausência é amarga.


Ensinar a pensar é ensinar o pensamento a dançar no espaço em que as coisas que não existem existem.


Como sobremesa seguida de licor nada melhor do que após a leitura deste livro, assistir ao novo filme de Woody Allen "Meia-noite em Paris".
"A Feira de Fruição é o lugar do amor"... (Assim mesmo, com três pontinhos após as aspas).

14.6.11

Recado da Bruxa x Recado da Fada



Sábado à noite, nada de especial para fazer... A Isabela chegou ao meu quarto com a caixa de um antigo jogo meu chamado Boa Noite Cinderela, do Sívio Santos. Siiiim! Eu tenho o jogo quase intacto. Graças, claro, aos cuidados da minha mãe até a minha fase adulta quando adquiri o direito de levá-lo para a minha casa. Os dados estão um pouco ou muito gastos, as imagens quase tendo que ser decifradas, mas dava para jogar! E o copinho onde se agita os dados, descobri na hora, que a própria Isabela o havia quebrado fazia algum tempo. Enfim, o essencial estava perfeito. Tabuleiro, cartas, príncipes e princesas.
E como há muito eu não tirava um tempo para brincar com as meninas, nem este nem nenhum outro jogo, me rendi ao convite.  Ótima escolha!  Diversão pura por boas horas.
O grande divertimento do jogo está nas tarefas ditadas aos jogadores pela bruxa ou pela fada. Depende do caminho exigido pelos dados que você tem que trilhar.
As tarefas nos “Recados da Bruxa” recaíram quase todas sobre mim. Tive que varrer a sala, imitar um cabrito, pular e coaxar como um sapo. E detalhe, tinha que ser um sapo gordo. A gente não sabia se ria ou se jogava. E muitas, muitas rodadas fiquei de castigo sem poder jogar. Bruxa má!!!

A boa Fada ordenava tarefas ingênuas como só um jogo de 30 anos atrás teria: cante uma canção do Roberto. Detalhe, crianças de 8 e 12 anos não sabem nenhuma canção do Roberto.  Na realidade, têm uma vaga idéia de quem ele seja ou mesmo nem sabem quem é o Roberto. Então, a missão acaba ficando para a gente, os mais “velhos” da brincadeira. O jeito era fazer igual ao Padre Marcelo Rossi: eu cantava e elas repetiam. E a missão era dada como cumprida.
Tinha também que recitar poemas. Não era castigo, não. Era recado da fada! Beijar os “amiguinhos”... Fazer uma declaração de amor...  E cantar uma canção de roda.
Fomos todas dormir com as bochechas até doendo de tanto rir. E em um jogo com três participantes todas saíram com medalhas: 1º, 2º e 3º lugar.
Porque tenho a impressão de que os jogos vendidos hoje em dia não são tão divertidos assim? Cadê o Sílvio Santos que não relança o Boa Noite Cinderela? Podem até trocar de nome, já que existe outro fato nada agradável com este nome. Não estamos em uma fase onde é chique ser retrô? Então... Mas nada de tirarem as músicas do Roberto do jogo, ok?
Quantas recordações... Casa da avó, bolo no forno, desenhos do Pica-pau, chup-chup, balão a gás em festa junina, pés descalços, jabuticaba no pé, guaraná Alterosa... Ah, infância...