Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Há alguns meses uma amiga me emprestou o livro "E aí? Cartas aos adolescentes e a seus pais" do Rubem Alves. No corre-corre do dia-a-dia o livro foi se ajeitando num canto da minha mesa de trabalho. Só ontem sua presença começou a me incomodar e numa sensação, como noutras vezes sentida, percebi que era o momento para iniciar a sua leitura.
Compartilho com vocês um trecho de uma das cartas, aonde ele comenta que apesar dos inúmeros estudos sobre o comportamento humano através dos bichos, nenhum bicho foi encontrado para o estudo da adolescência. O que explicaria, segundo o autor, a pobreza dos nossos conhecimentos nesta áreas. Valendo-se de uma hilária analogia, ele compara os adolescentes às mariticas. Perfeito!
"Por muitos anos tive escrúpulos de tornar pública minha descoberta revolucionária. Lembrava-me de Darwin, que foi cruelmente perseguido e ridicularizado por haver revelado nosso parentesco com os símios. Temi sofrer retaliações caso revelasse que o enigma dos adolescentes pode ser decifrado se estudarmos o comportamento social e psicológico das maritacas...
Sim, as maritacas... Mesmo sob exame superficial, as semelhanças saltam aos olhos.
Para começar, andam sempre em bandos, maritacas e adolescentes. Uma maritaca solitária e um adolescente solitário são aberrações da natureza. Daí o horror que os adolescentes têm da casa: na casa eles estão separados do bando. Havendo cortado o cordão umbilical que os ligava aos pais, eles o substituiram por um outro cordão umbilical, o fio do telefone, pelo qual eles se mantêm permanentemente ligados uns aos outros. Eles não conseguem ficar sozinhos, porque sentem muito frio.
Depois, são todas iguais, as maritacas. E também os adolescentes. Você já viu um adolescente se vestir diferente das outras para a festa? Os tênis têm de ser da mesma marca. Os jeans, da mesma grife. A Pachá* é um templo onde os adolescentes celebram suas igualdades.
Sabiás não padecem de crise de identidade. São aves solitárias e por isso cantam bonito de fazer chorar. Quando eles cantam todo mundo se cala e escuta. As maritacas são o oposto. Gritam todas ao mesmo tempo. Deus o livre (não me livrou) de assentar-se próximo a uma mesa de adolescente, no Pizza Hut... Dizem sempre a mesma coisa, dizem sempre igual, dizem sem parar. Mas eles nem ligam. Porque ninguém escuta mesmo.
E finalmente, maritacas e adolescentes não se importam com a direção em que estão indo. Importam-se, sim, com o "agito" enquanto vão.
(...) Espero que você tenha percebido que a essência do que estou dizendo se resume nisto: em situações quando chorar é inútil, só nos resta dar risada."
Trecho de uma das cartas do livro "E aí? Cartas aos adolescentes e a seus pais". (Rubem Alves)
Lembram-se de Lola? Logo no início deste blog contei a sua história. Uma mulher de vida simples e guerreira que no próximo dia 14 de janeiro completa 87 anos.
Abaixo apresento o vídeo feito pela arte-educadora Janaína Ligório (minha irmã artista e talentosa!) no qual ela realiza um trabalho sensacional numa mescla de música, imagens, fotos e um dos poemas de Lola, publicado em seu livro de memórias. Adorável!
Quem tem, pelo menos, seus trinta e cinco anos (o tempo passa, né gente!) vai se lembrar do sucesso que foi em 1982 o lançamento do disco (sim, disco! LP!) do cantor Dalto com a música "Muito Estranho".
Dalto vendeu, nada menos do que, 1,5 milhão de cópias deste álbum que tocou e retocou em todas as rádios populares do país.
Hoje vejo o cantor "cult" Nando Reis regravando "Muito Estranho" e seus fãs, pertencentes ao club do "sei o que é bacana e de bom gosto em termos musicais", cantando e recantando frases do tipo "Hum, mas se um dia eu chegar muito louco... deixa essa água no corpo lembrar nosso banho..."
Pois bem, Dalto era considerado o brega do brega. Suas músicas, em especial, "Muito Estranho" era a preferida das camadas mais populares deste país, juntamente com Rosana ( Como uma deusa!!!) e Richie (Menina Veneno, o mundo pequeno demais pra nós dois...).
Muitos talvez se lembrem das brincadeiras do "melô" dos jovens da década de 80/90.
Qual era o melô do liquidificador? "Então misture tudo.... Dentro de nós..............."
Sempre que ouço conversas sobre o que é bom ou não, o que chique ou brega, confesso que me baixa uma certa preguiça de opinar sobre o tema.
Sou uma típica representante do interior das Minas Gerais, adoro música sertaneja!!!
Sendo assim, automaticamente estou excluída do CCC (club dos cults e chics).
A gente perde muita coisa legal quando fica preocupado em corresponder as expectativas das pessoas, então eu me abstenho.
Acredito que em todos os gêneros existam tanto músicas boas quanto ruins (ok, alguns mais do que em outros, eu concordo!). Mas música é pra se divertir e tem que combinar com o momento. Não dá para ouvir Caetano, Maria Rita e cia. num churrasco de domingo.
Há pouco tempo fui a uma "Festa Brega" organizada anualmente por um casal de amigos. IMPRESSIONANTE como TODOS sabiam as letras de TODAS as músicas de cor. As pessoas estavam muito alegres! Poucas vezes vi um grupo de pessoas se divertirem tanto, sem precisar, nem mesmo, de ter bebido. Felizes como crianças.
Crianças não se preocupam com o que estão falando delas por que crianças vivem a vida sem preconceitos.
Brasil, que maravilha de diversidade cultural você nos proporciona! Eu curto!
Precisei montar uma caixinha surpresa recheada de guloseimas para
minha filha receber na escola em comemoração pela semana da criança. Peguei minha
caixinha de memórias da adolescência, retirei tudo que havia
dentro, deixei os papéis e as cartas espalhados pela cama realizando a divertida tarefa. Já à tarde
resolvi dar uma conferida nos "segredos" que eu guardava por tantos anos .
Surpresa foi a minha, ao encontrar uma redação que fiz aos quatorze anos
quando era aluna do 1º ano do Colégio Pio XII. Na época fazia um ano que eu havia me
mudado para Belo Horizonte.
Tema proposto pela professora
Se uma fada me desse sua
varinha de condão, no início deste ano, o que eu faria com ela?
Caso
tivesse uma varinha de condão, gostaria de poder voltar para a cidade da qual
vim. Seu nome é Itabira. Morei em Itabira durante seis anos, vindo para Belo Horizonte
em janeiro de 1986.
Tenho
saudades dos meus ex-professores, do meu ex-colégio, de minhas amigas que não
vejo há algum tempo e principalmente de Itabira, tenho saudades. Vir para a
capital foi um grande susto. Logo me adaptei, mas nunca aceitarei.
Quando
se vem para a capital é difícil voltar e sei que não serei exceção. Aqui tudo é
mais pedra, tudo é mais gelo. Você se fecha e aprende a ser mais pedra.
Apesar
de não ser itabirana, eu me considero uma. Fui para lá com sete anos e seu
ferro entrou na minha alma, como diria Carlos Drummond de Andrade, em
“Confidência do Itabirano”.
Os
motivos que me trouxeram para Belo Horizonte não me levam de volta a Itabira e
acho que somente uma varinha de condão me levaria, mas quem sabe?
12/02/87
Enquanto remexia minha caixinha de sentimentos me dei conta de que a próxima semana é semana de festa em Itabira, nove de outubro é dia da cidade.
Tem belezas minha terra,
Vou cantar a minha lira,
A primeira é mais sublime,
O seu nome é Itabira...
De Itabira trouxe tantos sonhos... Guardei-os na caixinha.
É esse hábito de sofrer... Doce herança itabirana...
Itabira foi arrancada da minha parede... Ainda dói!
Ahora me dejen tranquilo. Ahora se acostumbren sin mí.
Yo voy a cerrar los ojos
Yo sólo quiero cinco cosas, cinco raíces preferidas.
Una es el amor sin fin.
Lo segundo es ver el otoño. No puedo ser sin que las hojas vuelen y vuelvan a la tierra.
Lo tercero es el grave invierno, la lluvia que amé, la caricia del fuego en el frío silvestre.
En cuarto lugar el verano redondo como una sandía.
La quinta cosa son tus ojos, Matilde mía, bienamada, no quiero dormir sin tus ojos, no quiero ser sin que me mires: yo cambio la primavera por que tú me sigas mirando. Amigos, eso es cuanto quiero. Es casi nada y casi todo.
Ahora si quieren se vayan.
He vivido tanto que un día tendrán que olvidarme por fuerza, borrándome de la pizarra: mi corazón fue interminable.
Pero porque pido silencio no crean que voy a morirme: me pasa todo lo contrario: sucede que voy a vivirme.
Sucede que soy y que sigo.
No será, pues, sino que adentro de mí crecerán cereales, primero los granos que rompen la tierra para ver la luz, pero la madre tierra es oscura: y dentro de mí soy oscuro: soy como un pozo en cuyas aguas la noche deja sus estrellas y sigue sola por el campo.
Se trata de que tanto he vivido que quiero vivir otro tanto.
Nunca me sentí tan sonoro, nunca he tenido tantos besos.
Ahora, como siempre, es temprano. Vuela la luz com sus abejas.
Existem algumas atitudes típicas de muitos dependentes de álcool que se encaixam perfeitamente bem no imaginário popular:
Bebem todos os dias, quase todos os dias ou mal podem esperar o final de semana chegar para poderem beber.
Não sabem a hora de parar de beber.
Cambaleiam e ziguezagueiam pelas ruas.
Arranjam brigas (famosos por dizerem que matam e que esfolam).
Batem o carro.
Batem na esposa e nos filhos.
Dormem na mesa, no primeiro sofá ou cama que encontram.
Ficam emotivos e choram.
Ficam chatos, demoram horas contando o mesmo caso, abraçam o seu interlocutor, cospem enquanto falam.
Ficam vermelhos (não sei o porquê, mas estes me incomodam bastante).
Vivem faltando ao trabalho por não terem condições de se levantar no outro dia.
Mas existe um tipo diferente de alcoólatra que é capaz de passar toda a vida sem ser classificado pela família e pelos amigos como dependente:
Bebem todos os dias ou quase todos os dias. A principal desculpa: “é para relaxar”. Em geral sabem de cor todos os benefícios de se beber diariamente “um copinho de cerveja” , “uma dose de whisky” ou “uma dosezinha de pinga".
São gente boa, divertidos, contadores de piadas e muito bem humorados.
Estão sempre na lista de convidados de todas as festas de amigos e familiares.
Aonde vão todo mundo já os esperam com a sua bebida preferida.
E o que os diferem de todos os demais?
Não cambaleiam e não ziguezagueiam pelas ruas.
Não arranjam brigas.
Não batem o carro e acham um absurdo esta tal de “lei seca”.
Não batem na esposa e nos filhos.
Não dormem na mesa, no primeiro sofá ou cama que encontram.
Não desatam a chorar após beber.
Não ficam chatos, não demoram horas contando o mesmo caso, não abraçam o seu interlocutor, não cospem enquanto falam.
Não ficam vermelhos.
Não faltam ao trabalho.
E, algumas vezes, até sabem a hora de parar (pelo menos naquele dia).
Então, como assim? Alcoólatras? O que os une aos demais alcoólatras?
PRECISAM BEBER TODOS OS DIAS OU QUASE TODOS OS DIAS.
E por serem assim tão carismáticos, todos fingem não ver sua dependência e até colaboram com uma cervejinha a mais. Afinal, ele é tão legal!
Não se iluda, esta pessoa é um alcoólatra. Alcoolismo está relacionado a dependência, a não conseguir viver sem. É uma doença, e se os que estão a sua volta aceitam o fato, já pode ser o início de uma grande mudança.
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Veja também a entrevista que o ex-jogador Sócrates deu para o Fantástico falando sobre sua dependência do álcool: