15.3.11

O Dia da Bênção dos Animais

Representação teatral do Colégio CSA no Parque das Mangabeiras em Belo Horizonte de Francisco ainda criança. 

Hoje é dia de São Francisco de Assis e como em todos os anos, os alunos do Colégio Santo Antônio levam seus bichinhos de estimação para a bênção dos animais no início da aula. Afinal este é reverenciado como o padroeiro e protetor dos animais na religião católica.
Minha filha Isabela está eufórica há uma semana. Este é seu primeiro ano no colégio e ao contrário da irmã mais velha Júlia, ela já tem a pequena Susy, uma cadelinha maltês, para exibir às amiguinhas.
Enquanto isto, Júlia resmunga pela casa que a Susy está “naqueles dias” e que por conseqüência não poderá ir. O motivo de sua indignação, claro, não era este. A permissão para levar os animais era restrita às crianças do ensino primário e ela já com doze anos nunca teve um cãozinho para levar à escola. Elas só conseguiram me convencer de tê-lo há menos de dois anos.
Começo logo a defender o direito da Isabela de levar a Susy sem carregar junto a frustração da irmã.
-Filha, deixa de ser chata. Só porque quando você era pequena não tinha um cachorrinho para levar, não significa que sua irmã tenha culpa disto. Você não levava seu peixinho?
- Mãe, você me fez "pagar o mico" de levar meu peixinho dentro de uma jarra plástica de suco. Todo mundo ficou rindo de mim.
- Mas ele não era o seu bichinho de estimação querido naquela época? Como você faz agora tão pouco caso dele? – Tentei ponderar.
- Mãe! Peixinhos não demonstram sentimentos. Nem mesmo fazem biquinho igual aos dos desenhos animados. E tem mais, nem pense que podemos levar a Susy no especial. Tem criança que chora de pânico só de ver um cachorro.
Pensei na hora, então como vai ser esta bicharada dentro da escola?
Dispensei a van escolar e decidi por levar eu mesma a turma toda. Susy muito feliz abanava o rabinho para o seu "primeiro dia de aula", toda vestida de cor de rosa e com o pelo tosado bem curtinho.
Já no pátio do colégio a cena que eu encontrei era de cinema. A cadeia alimentar dos animais de estimação estava ali 100% representada. Não paravam de chegar cachorros de todos os tamanhos, cores e raças. Gatos, ramisters, peixes, pássaros, coelhos, pintinhos, tartarugas e todo o bicho que se podia imaginar, ou não, que alguém teria em uma casa. E um desfile infindável de coleiras, roupinhas, lacinhos, gravatinhas, penteados, gaiolas, aquários e até caixinhas de sapatos para ramisters.
Destaque à parte foi para a quantidade de bichinhos de pelúcia que compareceram. Sim, afinal, quem disse que eles não mereciam as bênçãos de São Francisco. Pensei que talvez tivesse sido melhor a Júlia ter levado um destes no lugar do peixinho na jarra de suco. Nenhuma criança me parecia constrangida com eles.
Somado a isto havia algo em torno de umas seiscentas crianças eufóricas e falantes, exibindo seus entes queridos para os melhores amigos. Bem de perto monitorando tudo, estavam os pais, ou melhor, alguns pais, algumas avós e muitas mães controlando para que ninguém distraidamente, claro, comesse ninguém.
Como se não bastasse o som natural produzido por este batalhão ruidoso, ainda haviam as caixas de som reproduzindo músicas infantis de São Francisco. Era para rir, não havia alternativa. Todos nós admirávamos a alegria da meninada e balançávamos a cabeça, incrédulos, com a inimaginável harmonia da cena.
Júlia vai para sua sala inconformada de não poder ficar um pouquinho mais. Isabela corria por todo o pátio com a Susy debaixo do braço. E melhor, do mesmo modo como se carregava uma bisnaga de pão na época que estas eram comuns em todas as casas.
Começa, enfim, a cerimônia da bênção. O Frei, diretor do colégio, convida à todos a rezar o Pai Nosso.  Em suas palavras misturou o amor de São Francisco pelos animais com a preservação da natureza e o uso responsável da água na hora do banho. Afinal, sustentabilidade era a palavra do momento e não podia ficar de fora do sermão.
E com uma taça bem grande cheia de água (destas usadas para servir ponche) e um ramo de folhagem saiu benzendo a bicharada toda e de quebra abrandando o fogo da meninada.
E a Arca de Noé se desfez com todos sãos, salvos e abençoados. Somente um pouquinho molhados, bichinhos, bichos e bichões já podiam voltar tranquilamente para casa com seus respectivos acompanhantes. Dirijo com a Susy esparramada no banco da frente do carro. Não dá para saber se a prostração era devido à água benta ou ao agarra-agarra dos coleguinhas da escola.
Já à noite,resolvi perguntar se as duas sabiam o significado do ato de se abençoar os animais. Ouvi coisas do tipo:
- Uai mãe... a Suzy ficou abençoada...
- Sim, muito bem. Mas o que significa ser abençoada?
- Ela está benzida...  Recebeu a bênção...
Ri bastante e percebi que ninguém tinha se dado ao trabalho de explicar para as crianças o sentindo de tudo aquilo.
Vamos lá perguntar  o significado para o nosso amigo Aurélio?
Bênção: Ação de benzer ou de abençoar. Graça divina.
Benzer: Abençoar. Fazer o sinal da cruz sobre pessoas ou coisas recitando certas fórmulas litúrgicas.
Abençoar: Fazer feliz, tornar próspero, proteger.
E agora, está explicado?

3 comentários:

  1. Ahahah! Adooooro o jeito que você relatou tudo isso! Amooo!
    Bjs! =***

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  2. É muito legal, vou lendo os seus textos e consigo me sentir como parte da história, me transporto...rsrsrs, fiquei imaginando e rindo da estripulias dessa garotada e seus bichinhos lindos... Muito bom Claudinha, continue escrevendo sempre... Beijos

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  3. Que delícia encontrar estes elogios das minhas queridas Diana e Cris. Adorei!
    Beijocas!

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